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Escolha suas batalhas com sabedoria: investidores não são inimigos!

Em algum ponto das negociações entre empreendedores e potenciais investidores com relação aos termos para viabilizar o aporte de recursos em uma sociedade, especialmente no caso de startups, a discussão entre as partes vai passar (mesmo que não seja verbalizado) por uma avaliação de lado a lado sobre o que é mais valioso: a ideia e o trabalho do empreendedor ou o dinheiro do investidor. Infelizmente, a forma de condução das conversas, ou a imposição de um sem-número de condições, muitas vezes acaba levando os envolvidos a questionamentos desta natureza.

E não há nada que esteja mais desconectado com a realidade do que isso. Pelo menos na grande maioria das vezes.

É indiscutível que o empreendedor tem grande relevância para seu negócio. Afinal, são dele as ideias que levaram ao conceito; é ele a inteligência por trás da solução em desenvolvimento. Tanto é assim que é bastante comum a adoção de regras em contratos de investimento que limitam a possibilidade de o empreendedor vender sua participação na sociedade durante um determinado período e as que criam obrigações de não-concorrência a serem observadas após sua saída. São mecanismos que pretendem manter os fundadores no empreendimento por um período mínimo como uma maneira de assegurar que a operação irá alcançar um determinado grau de maturidade desejado pelas partes.

Investidores também entram em cena como um elemento importante da equação: o dinheiro necessário para a implementação do negócio, para fazer frente à fase inicial de desembolsos com pouca geração de receita ou para permitir a expansão do negócio de uma forma que poderia levar anos com base no crescimento orgânico.

Ao trazer investidores que só agregam recursos ao negócio, empreendedores podem perder uma oportunidade única. Há muito mais que pode ser obtido junto a sócios estratégicos, como conhecimento de mercado, contatos profissionais, experiência no setor específico ou em atividades necessárias para a condução das atividades do empreendimento. É o cabelo branco (literal ou figurativamente falando) que muitas vezes falta ao empreendedor para uma tomada de decisão mais fundamentada.

A ideia de que investidores não buscam por bons negócios, mas sim por bons empreendedores, pode (e deve) ser invertida e empreendedores também precisam buscar por investidores que sejam maiores do que os recursos que vão aportar ao negócio.

Na prática, para que o empreendimento possa se beneficiar desse valor adicional dos investidores, é preciso que exista interação deles com os empreendedores; é preciso diálogo, formal e informal. A troca de opiniões e a participação em sessões de brainstorming são importantes, mas o efetivo envolvimento dos investidores nas tomadas de decisão pode se mostrar fundamental para o crescimento do negócio.

Seja via voz e voto nas decisões sociais, exercendo direito de veto em determinadas matérias ou simplesmente participando do quórum de aprovação de outras, seja via participação na gestão, a presença dos investidores no cotidiano do negócio pode se mostrar um diferencial para o atingimento de metas e objetivos da sociedade. Neste sentido, assegurar aos investidores um assento em órgãos deliberativos, como o Conselho de Administração, pode ser estratégico. O investidor não é vilão e não deve atuar de maneira a podar ideias do empreendedor, mas sim ajudar a moldá-las e adaptá-las à realidade da sociedade e do mercado em que está inserida. É um aliado para avaliar e definir formas de atuação justamente para permitir voos mais altos pela sociedade e pelo próprio empreendedor.

Claro que estes conceitos devem ser pensados e utilizados com parcimônia. Pode não ser do melhor interesse da sociedade que qualquer investidor tenha influência formal em seu processo decisório; pode ser que um investidor desalinhado com o objetivo de longo prazo do negócio não seja a melhor opção para o cargo. É preciso que esta decisão seja tomada considerando o perfil dos investidores, sua estratégia de investimento e até a empatia entre os envolvidos.

Sociedade não é algo simples e livre de conflitos. É bastante possível que empreendedores e investidores venham a divergir em um ou outro momento com relação a uma ou várias questões. Mas isto não é necessariamente ruim, desde que ambos estejam pensando naquilo que é o melhor para o negócio e não interessados em defender posições individuais. Este, aliás, é um dos conceitos adotados pela própria legislação ao tratar da responsabilidade dos administradores (que teriam que ser observados pelos investidores que tenham assento em órgãos societários).

Cuidado na hora de escolher os sócios e de aceitar dividir poderes de administração com eles pode ser uma arte. O que não se pode é criar um cenário em que os investidores sejam vistos como inimigos. Escolher bem os parceiros e saber aproveitar o que eles podem oferecer de melhor é sem dúvida um importante passo no caminho para o sucesso.

 

Rio de Janeiro, junho 2020

Este artigo tem caráter meramente informativo e traz apenas comentários gerais sobre a matéria em análise, de forma que não deve ser interpretado como contendo uma opinião, aconselhamento ou recomendação por parte de Stockler Nunes Advogados para aplicação a uma situação específica.